Ramadan - Parte II

Eu me converti ao Islam em 2005 logo depois que mudei pro Canada e esse é o meu 5˚ Ramadan, e foram comemorados em 4 países diferentes (Canada, Arabia Saudita, Egito e Bahrain), por isso quero colocar aqui a minha experiência em cada país.

Canada : Foram 3 Ramadans, lá não se dá muita atenção para o mês sagrado, nem todos sabem o que está acontecendo, alguns conhecem a cultura e tem altas conversas a respeito, mas uma coisa eu posso garantir, eles respeitam o fato de estarmos jejuando e evitam comer próximo, digo, aqueles que tem contato ou estão em contato conosco. A vida não muda, os horários de trabalho e escola continuam os mesmos, não tem ornamentação ou música de Ramadan na televisão ou rádio, é um mês como outro qualquer, para eles!

Egito : Só passei metade do Ramadan lá e posso dizer que foi o meu favorito, nada para, os restaurantes e lojas ficam abertos, os pontos turisticos funcionam a todo vapor, ninguém buzina menos (hehehehe), ta certo que a carga horária de trabalho diminui, mas também temos que entender que as pessoas tem que voltar pra casa cozinhar e comer, né?! Tem programação especial na TV e música. Lá tem ornamentação em tudo quanto é lugar, eles usam uns tecidos lindos e as lamparinas, durante a quebra do jejum não se vê uma alma viva na rua (tá certo que estou exagerando e muito) mas após a quebra do jejum as pessoas vão pra rua encontrar amigos e visitar parentes, eu não dormi um dia sequer antes das 2 da manhã. Os egipios tratam o Ramadan como deve ser, um mês de abdicação sim mas tristeza não.

Arabia Saudita : Lá é deprimente, nada abre durante dia, shopping, mercados, restaurantes, parece cidade fantasma, a carga horária de trabalho e escola também é reduzida. Tudo começa a funcionar no horário da quebra de jejum e os shopping ficam abertos até 3 da manhã. O estrangeiro, ou melhor, o não mulçumano pode comer durante o dia contanto que faça de forma privada.

Bahrain : Bem, por enquanto só foram alguns dias mas posso dizer que se não gostei do Ramadan na Arábia Saudita aqui é muito pior. Os shoppings até abrem durante o dia, das 10 até 14 e das 19 até 1, os restaurantes abrem na hora da quebra do jejum, alias preciso conta essa, « no domingo fomos jantar fora, o horário da quebra do jejum era as 18:07, entramos no restaurante exatamente as 18:00 e o gerente não queria nos deixar entrar dizendo que se o pessoal do ministério passasse ele estaria encrencado, eu reclamei dizendo que deveriamos estar comendo em 8 minutos e o Hady se estressou e disse que se alguém viesse chamar a atenção dele, o gerente, ele tomaria a responsabilidade, só para vocês entenderem, se o horário de quebrar o jejum é as 18:00 então o prato de comida TEM que estar na nossa frente as 18:00, então tudo tem que começar a ser servido antes do horário ». Voltando… Aqui o estrangeiro não pode comer durante o dia, muito se escondem dentro dos banheiros para se alimentar e hidratar.

Tanto aqui quanto na Arabia Saudita eu sinto que eles tratam o Ramadan como punição e eu não entendo o por que, ta certo que não é fácil ficar sem comida ou água durante o dia mas o corpo acostuma, a primeira semana é a mais difícil. Nós aqui em casa, ou seja, eu e o Hady, esperamos pelo Ramadan ansiosos, comemoramos a chegada do mês sagrado e passamos o mês celebrando, é um mês de sacrifício e não de punição. Outra coisa que acho muito interessante e até engraçado, mas totalmente errado, é como eles trocam os dias pelas noites, sim eles dormem a maior parte do dia, acordam quase na hora de comer e só vão dormir quando o sol nasce, oras cadê então sacrifício? A dor no estomago pela falta de comida e a garganta seca por falta de água? Eles não sentem realmente o sofrimento daquele que não tem o que comer, eles não fazem o que tem o que fazer, não são todos pois muitos trabalham, mas acontece com a grande maioria. E o que mais me deixa irada, a proíbição aos estrangeiros, ou melhor, imposição do jejum; o jejum é algo que não pode ser imposto a ninguém nem mesmo aos mulçumanos, o jejum é entre o jejuador e Deus, se você aceitou fazê-lo, faça-o de coração aberto, tenha a intenção de fazê-lo e o mais importante é que temos que aceitar que nem todo mundo é mulçumano, nem todo mundo vê a importância desse mês, em outras palavras temos que ser tolerantes e aceitar as diferenças, e que fique bem claro que o que eles fazem é totalmente ERRADO perante o Islam.

Esse ano vou poder experimentar o Ramadan no Brasil, estarei lá nas últimas duas semanas do Ramadan e nas celebrações do Eid, já temos planos pra celebrar o Eid com a família e mostrá-los um pouco da nossa religião.